4.8.08

Orgulho de ser evangélico

E disse-lhes: Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum.

Marcos 9:29

O pastor Ricardo Gondim conta, num dos seus artigos na revista Ultimato, que faz caminhada no Parque Ibirapuera, em São Paulo, vez por outra usando uma camisa escrita: "Orgulho de ser nordestino". E dali, ele pensa sobre o que é ser cristão protestante (evangélico) no Brasil, lembra de vários exemplos valorosos, de pessoas que agem por amor, e sugere uma nova camisa: "Orgulho de ser evangélico". Tanto que esse artigo cede o titulo ao

Compartilho dele a mesma opinião. Somos do céu, para lá iremos. Mas por enquanto, estamos vivendo o início da eternidade por aqui. Logo, é bom fazermos o melhor que pudermos com a nossa vida aqui, nessa terra que é boa, mas é mal-frequentada (como diz Luiz Fernando Veríssimo). E tem tanto exemplo bacana de cristão comprometido com as coisas lá do alto, e com o próximo... Que dá orgulho. Mas não é de justiça social que eu quero falar, hoje eu quero falar de libertação espiritual.

Minha igreja é pequena: Hoje, por exemplo, haviam 30 pessoas no culto da manhã. Para os padrões brasileiros de prosperidade e "domínio territorial", é uma igreja pífia. Eu diria pequena, apenas. Mas lá, Deus fala e age. Vi isso mais uma vez hoje.

O culto da manhã acontecendo, e um rapaz, bem-vestido, aproxima-se da porta. Uma das senhoras da igreja comunica-se com ele, e ele deseja conversar. Conversam durante o final do culto e todo o período do sermão (ou mensagem). No final da mensagem, ele entra no salão, hesitante, e senta-se num banco. O pastor, simpático, pergunta o nome dele, e diz: "Deus tem algo para você, fulano (não vou citar nomes, não convém)". Ao mesmo tempo, ele olhou para o rapaz, e viu algo diferente. Estranho. Perturbador. No momento do apelo, canta-se o corinho que alguns chamam de "Família", esse rapaz vem à frente, ajoelhar-se. Ajoelha-se fora da almofada que há na frente, rosto no chão. O pastor desce com a Bíblia em punho, e um dos presbíteros, pessoa muito experiente e um evangelista nato, vem também, para impor as mãos. Eu, na minha estupidez de quem precisa ainda aprender muito de Deus, olhei e me perguntei por que os dois orando com aquele rapaz. 30 segundos depois, veio a resposta.

Possessão demoníaca. Eu já tinha visto expulsão de demônios, mas fazia tempo que eu não estava participando de uma. O rapaz caiu para o lado, começou a gritar, e dizer que dali não saía. O que eu pude fazer foi abaixar a cabeça e orar. Eu e a maior parte da igreja, clamando e orando em alta voz por aquele pobre homem, possesso.

E o pastor, e o presbítero? Travaram uma batalha com aquilo que habitava o corpo daquele rapaz. Se não fosse tenso, seria cômico ver o pastor (que tem baixa estatura) montado sobre o rapaz, caído no chão. E ele com a mão direita apontada na direção do rosto, o dedo indicador em riste, e falando em alta voz: "Demônio, aqui você não vai envergonhar ninguém! Saia desse corpo, em nome do Senhor Jesus!" O presbítero, além de evangelista, creio eu, tem o dom de expulsar demônios. A autoridade com que eles falaram foi de impressionar.

Mas não foi tudo. O rapaz caiu, levantou-se, disse que dali não saia, riu... Mas o que estava ali dentro foi subjulgado. Ao menos alguns deles, pois não era um só. O presbítero quase levou um safanão do endemoninhado, mas revidou, gritando no ouvido dele, olhando bem no fundo dos olhos e gritando, com uma autoridade que só pode vir de Deus: "Abaixe essa mão, porque em mim nem em ninguém você vai tocar! Saia dessa vida, demônio, eu te ordeno em nome do Senhor Jesus Cristo!".

Nesse meio todo, olho para o meu pai e para outras pessoas, e elas estão de cabeça baixa, orando... Mas cadê minha mãe? Estava ela lá, junto com o pastor e o presbítero. A danada segurou o rapaz pela mão esquerda, declarava e cheia da autoridade que vem dos céus, ordenava junto que a casta que habitava aquele pobre rapaz deixasse-o. Confesso que uma ponta de orgulho bateu naquele momento, ver ela por lá. Mas ao mesmo tempo, continuei clamando, pedindo que Deus operasse através dos seus servos.

Quase no final, parecia tudo resolvido. Até que ela perguntou ao rapaz: "Você confessa a Cristo como Senhor da sua vida?". Ao passo que ele respondeu: "Isso não!". Era o sinal de que nem todos tinham saído. Ainda restava alguma coisa ali dentro, mas foi removido pelo Senhor Jesus Cristo, através dos seus servos. No final, sentado no banco, esse rapaz, de semblante mudado e de espírito liberto, disse: "Eu confesso, Deus é Senhor da minha vida, Ele é maravilhoso!". E a igreja explodiu em aleluias e glórias a Deus.

Esse rapaz era um cristão desviado. Dele se ausentou o Espírito Santo, e um demônio após outro ocupou o espaço vazio. Ele estava indo para cometer suicídio, mas Deus tocou no seu coração, e ele mudou o rumo. A hesitação dele ao pisar na igreja: parecia que o chão estava em brasa: Ele pisava, mas tirava o pé, custou para entrar. Mas foi liberto, em nome do Senhor Jesus Cristo, e o demônio foi envergonhado. E de lá saiu, e não mais ficou.

Existem muitas igrejas por aí. Se você ligar na televisão, vai ver cada uma mais diferente da outra. Tem pastores que sugerem colocar copos de água em cima da televisão. Outros parecem esotéricos, de tanto que falam em vidência, energias positivas... Mas falam de Jesus Cristo também. E por aí vai (um dia falo do que tenho visto na TV). E tem muita encenação, muita gente que fantasia uma possessão demoníaca, por achar que com isso atrairá mais público. Outros acham que igrejas grandes, grande poder, e igrejas pequenas, pequeno poder. Não é nada disso.

Algumas conclusões a que chego:

  1. Tamanho (de igreja) não é documento.
  2. Minha avó sempre dizia: O diabo é nujento (demos um desconto, ela era estrangeira). Mas ela está certa, ele é nojento, repugnante, e tem que ser removido, ou cirurgicamente, ou por imposição de mãos fechadas, da vida das pessoas. E quem pensa que ele não é tão mau assim...
  3. "Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do que o primeiro." Lucas 11:26. Se não enchemo-nos das coisas do alto, aumenta a chance de ser recheado de lixo vindo "de baixo".
  4. Tem gente na minha igreja com mais tempo de caminhada com o Senhor do que eu tenho de vida, e mesmo assim ficaram muito impressionadas com o que viram. Não imaginavam que era assim, a coisa. E é muito séria.
  5. Se alguém duvida do poder de Deus, que assista uma expulsão de demônios. Ou você vai passar a ter certeza, ou então vão tirar aquilo que habita dentro de você, junto com o seu espírito (brincadeira).
  6. Se eu já tinha orgulho da minha igreja, hoje ele subiu mais alguns índices porcentuais. Se eu já tinha orgulho da minha mãe, hoje ele aumentou mais um pouco. Se eu já tinha alegria e prazer de servir ao Senhor, ele sumiu mais um pouquinho hoje. Se eu já achava que eu estava negligente com a Palavra, e que deveria orar e ler mais a Bíblia... Agora isso aumentou muito.
Sim, Deus opera nos dias de hoje. E através de nós, meros vasos de barro. Cabe a nós não sermos vasos quebrados. E tenho orgulho de ser evangélico. Porque essa intrepidez, essa ousadia, essa coragem... Só vinda mesmo do Senhor. Por nós mesmos, não. Mas é o Espírito Santo que habita em nós e que faz isso.

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25.12.07

É Natal

E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor.

Lucas 2:10-11


Há tempos ouço a mesma lenga-lenga, vinda de gente pseudo-esclarecida, que gosta de falar coisas que já sabemos. E o que já sabemos?


  • É sabido que Jesus, chamado o Cristo, não nasceu no Anno Domini, ou no ano 0. O decreto de Augusto César, que levou os hebreus de volta às suas cidades de origem é datado entre os anos 8 e 4 AC. Quirino não era mais o governador da Síria, por ocasião do Anno Domini. Logo, Jesus nasceu antes do ano 0, e o responsável pelo erro de cálculo é Eusébio de Cesaréia, bispo e historiador do tempo do imperador Constantino. Dionísio, o Exíguo, foi o primeiro a usar o nascimento de Cristo como referencial para datação.

  • Muitos lembram que a data (25 de dezembro) era na verdade a data que marca o início do solstício de inverno, onde culturas pagãs comemoravam uma festa do sol. Com isso, a igreja de então (católica romana) aproveitou-se da data para fazer uma "extensão" do culto, já que a data verdadeira era imprecisa (alguns dizem que foi em março), e com isso facilita a transição de um culto pagão para um culto dito cristão. A Igreja Ortodoxa, por exemplo, comemora o nascimento de Cristo no dia em que chamamos dia da Folia de Reis, em 6 de janeiro.
  • Tem gente que descobre a pólvora, lembrando que essa concepção, de Jesus sendo louro de olhos claros, na Palestina, é uma tolice tremenda. Esse Jesus, aí do lado, é furada. Jesus, sendo palestino, era moreno, de cabelos curtos, e talvez nem tivesse barba, só um bigode.

  • A estrela de Belém era provavelmente uma supernova, que explodiu bilhões de anos antes, e a luz intensa chegou naquele dia, naquele momento. Ou seja, uma coincidência.

  • Os reis magos não eram necessariamente 3, não chegaram lá imediatamente após o nascimento, e não ficaram por lá apenas uma noite. Eram provavelmente uma caravana grande, e que voltaram por outro caminho, com medo de bandidos, e eram sacerdotes do zoroastrianismo, religião originária da região da Pérsia (pós-Xerxes).

Tem isso tudo, que eu ouço vez por outra... E me pergunto: E DAÍ? O que isso muda a minha fé? No que isso afeta a minha crença num Deus vivo, que tornou-se homem, viveu aqui, morreu mas ressuscitou? Pelo menos, à minha, não afeta NADA. Data é apenas uma convenção. Não idolatramos a data, mas lembramo-nos do fato na data errada. O fato, que é o nascimento de Cristo, continua tendo absoluta relevância para nós. Mesmo na data errada. Continua sendo uma mitologia, como Beowulf, o Anel dos Nibelungos, a mitologia nórdica, Rei Arthur, a mitologia greco-romana, entre tantas outras. Com uma diferença: Ela é um conjunto de fatos reais, e baseados nesse conjunto de fatos, foi construída a mitologia. Como disse J. R. R. Tolkien, "Deus é o maior dos criadores de mitos, o maior dos contadores de histórias".

Se incorporaram de outra cultura com fins de acerto e aproveitamento da situação, tanto faz. Se Jesus era azul com antenas e cabelo branco, tanto faz. Se eram 3 ou 300 reis magos, não importa. Se era uma supernova e uma grande coincidência, deixa pra lá. Isso não muda o fato.

O que é importante é: Hoje, 25 de dezembro, comemoramos com alegria e singeleza de coração o nascimento de Deus feito homem, aquele ao qual as naturezas humana e divina se misturam, sendo inteira e completamente Deus e inteira e completamente homem, e que através dEle, temos acesso à Deus. Não importa se a data, o local ou os detalhes estão trocados ou errados. O que importa é que comemoramos a encarnação do Verbo como homem, e com isso, temos esperança de salvação. Aleluia, festejemos, demos presentes, montemos árvores de Natal, deixemos as crianças sonharem com Papai Noel colocando presentes nos pés de meia. E aproveitemos a época para lembrar de que temos esperança. Esperança em Cristo.

Um ótimo Natal a todos!

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30.1.07

Evangelho e software livre

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

1 Coríntios 1:25

Numa conversa com um amigo que pediu para ficar anônimo, não sei bem o motivo, concluímos que a Igreja Protestante é bem parecida com a comunidade do software livre, que muitos estão ouvindo falar agora. O mais famoso representante é o Linux, um sistema operacional para computadores cujo símbolo é um pinguim. E quais são essas semelhanças?
  1. No mundo Linux existem um um monte de distribuições, que são a forma pelo qual o Linux é disponibilizado. Cada uma tem um conjunto de características que a torna única, mas que a torna semelhante a alguma outra (ou a várias outras). Uma é derivada da outra, uma traz características da outra... Na Igreja Protestante, temos as denominações, que são semelhantes às distribuições do Linux.
  2. Na essência, todas as distribuições do Linux são iguais, trazem um conjunto básico de ferramentas, um núcleo do sistema (que é chamado de kernel), e uma biblioteca básica do sistema. Ou seja, o miolo do Linux é um só, o que muda, é o que tem em torno, a "casca". Nada muito diferente da Igreja Cristã, onde o cerne é Cristo. A mensagem central é a mensagem da cruz. E se não for, deveria ser, afinal, a nossa missão é pregar o Cristo crucificado e ressureto. O resto é questão de teologia: predestinação ou livre arbítrio, arminianismo ou calvinismo, amilenismo ou pré-milenismo ou pós-milenismo, pentecostalismo ou tradicionalismo... E por aí vai.
  3. Segundo esse meu amigo, existem diversos grupos no universo Linux que encaram a sua preferência, por sua distribuição, com um fervor quase religioso. Alguns são moderados, outros são mais radicais... Tem uns que são extremistas. Outros tem certeza absoluta que estão certos, e nenhuma tolerância com grupos diferentes. Outros tem tolerância, e aceitam um certo "ecumenismo" quanto ao Linux. E tem também os sectários, que dizem que tudo está errado e que ele detém a Revelação Última sobre como todo Linux deve ser. Bem parecido com a Igreja, não? Podemos diferenciar entre essas citações que ele me passou, diversos grupos, inseridos dentro da Igreja Cristã Protestante no Brasil. Até seitas evangélicas nós temos, no nosso meio.
  4. Mais uma: A evangelização, nos dois universos, dá-se de forma muito parecida, e errada. Não se ganha adeptos ao Linux dizendo que o Windows é errado, pura e simplesmente, ou que se não aceitar a Jesus, a pessoa vai para o inferno. Sabemos que o Windows é um problema sério com vírus, programas espiões e outras maledicências, incluindo as tentativas de roubar a senha do banco e o número do cartão de crédito. E sabemos que se a pessoa não aceitar a Cristo como Senhor e Salvador, vai para o inferno mesmo. Simples assim. Mas se abordarmos dessa forma, nunca iremos converter ninguém, nem ao Linux, nem a Cristo. E infelizmente, muitos grupos (tanto lá, quanto cá) fazem isso. A abordagem certa é mostrar que, com Cristo (ou com Linux) é muito melhor. Não estaremos livres de problemas, nem de aflições (quando Cristo falou isso, em João 16:33, no Evangelho de João, ele deveria estar pensando nas dores-de-cabeça com Windows...), mas com o Senhor ao nosso lado, é muito melhor. E, segundo o meu amigo, com o Linux no micro também.
  5. Terminando, muitos tem medo do novo. Tanto trocar de sistema operacional no micro quanto de orientação religiosa (ou mais claramente, de fé) traz transtornos e problemas. Discriminações, inclusive. Bem, nem eu nem esse meu amigo conhece alguém que foi perseguido por usar Linux. Já viu gente sendo discriminada, criticada... Mas não perseguida. No nosso país, com liberdade religiosa garantida por lei (mas nem sempre vivida na prática), a perseguição é velada. Mais discreta, mas mais presente. Acho que todos nós já sofremos algum tipo de discriminação. No local de trabalho - com as piadinhas no chefe, que você não pode responder, senão é demissão na certa -, na escola - quando um professor trata a fé cristã na Criação divina como 'história da carochinha'-, entre colegas e amigos - e um diz que você é careta, por não beber e/ou não fumar e/ou não ter uma vida dissoluta -, e por aí vai. Mas lembremo-nos das Bem-Aventuranças:
    Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

    Mateus 5:10-12

Existem diversas piadinhas quanto a Windows e fé cristã, então para descontrair, selecionei algumas e coloquei aqui embaixo:
  • ...e no oitavo dia, Deus deixou de usar o Windows...
  • Bill Gates tornou-se um deus. Windows é a praga divina.
  • If God lived on earth, people would break his Windows.
  • Oh meu Deus, o computador contraiu o Windows!
  • O Windows nao e a tal de praga dos 7 discos que a BIBLIA.DOC cita?
  • Profanity - It's not just for Windows users any more!
  • Sou atleta de Cristo: nao bebo, nao fumo, nao uso Windows
  • Benvindo ao inferno! Aqui está a sua cópia do Windows!
  • Who needs a doomsday virus when we have Windows
  • Windows:(n.)2. The Gates of hell.
  • Windows:(n.)4. Prova de que Deus tem senso de humor.
Volto mais tarde, tentando ser um pouco mais sério. Espero que vocês se divirtam, e aceitem as minhas desculpas pela ausência tão prolongada.

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29.1.07

A volta - do profeta chorão

Sumido, hein?! Sim, sumi muito tempo. O tempo tem-me sido escasso, e várias vezes olhei para o blog, e pensei em assuntos interessantes para trabalhar e escrever por aqui. Mas várias dificuldades tem ocorrido para impedir de eu criar uma continuidade. Mas assim como a humanidade, esse blog não foi abandonado. Eu ainda interesso-me por escrever aqui, e externar meus pensamentos sobre a "Noiva de Cristo".
Só que vou tentar adotar uma postura minimamente diferente: Ao invés de textos longos sempre, que me demandam trabalho e esmero na lapidação das palavras, experimentarei ser mais breve e menos profundo vez por outra. Mas também ser mais profícuo na redação das minhas missivas.
Logo, postarei ainda hoje - assim espero - um texto curioso, que redigi com um amigo de Internet, sobre semelhanças entre a Igreja Cristã Protestante (os evangélicos) e a comunidade de software livre, que está aparecendo mais na mídia ultimamente. Curioso como há tantas semelhanças...
Volto mais tarde. Mas volto mesmo.

18.2.06

Pedras que rolam não criam limo

Então Miriã, a profetiza, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças.

Êxodo 15:20


Decidi quebrar o silêncio desse blog aproveitando os acontecimentos culturais que teremos em breve no Brasil, pois achei bem propício. A frase que coloquei como título é antiga, mas vem bem a calhar com a semana. Algumas bandas de rock internacionais estão vindo fazer show no Brasil. O U2, irlandês, fará show em São Paulo, nos dias 20 e 21 de fevereiro (próximas segunda e terça-feiras). Os Rolling Stones, antigo grupo inglês, faz um grande show na praia de Copacabana, Rio de Janeiro, hoje, 18 de fevereiro.

Dizem que o diabo é o pai do rock, segundo alguns cristãos estúpidos extremistas. Eu, particularmente acho então que Deus é o avô, mas por tal afirmação alguns irmãos adorariam me assar no fogo da Geena... Já ouvi desde narrativas desesperadas sobre o "demônio acústico", até pregações inflamadas a respeito. Assisti palestras de gente "entendida" virando disco ao contrário para ouvir as mensagens subliminares que lá se escondiam, e recebi recortes de jornal provando que o rock tem "origem" nos cultos dos druidas, feiticeiros celtas do século IX e X. Ao mesmo tempo, discursos dizendo que "a música cristã é a boa".

Primeiro, acho que não deveria existir esse rótulo de "música cristã", ou "música gospel". Música é música, e pode ser usada em diversos propósitos, inclusive o louvor ao Senhor, ou adoração ao diabo. Mas nem toda música está num desses dois pólos. Aliás, é a minoria que está localizada nesses dois pontos. Mas a grande maioria não foi criada com o propósito de idolatrar outro que não Deus. Infelizmente muitos acham isso. Ou seja, trocando em miúdos: Só porque se converteu a Cristo, não quer dizer que tudo que não é explicitamente cristão é do diabo. Pobres coitados, que não conhecem o U2, por exemplo, e não sabem a caminhada espiritual da banda...

O rock tem origem simultânea, e raízes no gospel das igrejas negras estadunidenses, e no folk britânico. Influências dos celtas? Não sei, só acho que a distância é grande demais para isso. E mesmo que fosse, o que tem a ver o estilo musical com as práticas abomináveis de alguns druidas (que sacrificavam infantes a deuses desconhecidos e que não respondiam às preces)? Mas, ser cristão e gostar de rock, em alguns casos é complicado. Falo por experiência própria, já fui discriminado e severamente criticado, por declinar que eu gosto de rock. A pessoa que me criticou saiu furiosa do salão de culto, logo depois da minha afirmação "hedionda", providenciou o tal recorte de jornal que citei acima, e jogou na minha mão, dizendo que estava "prestando-me um conselho". E também fui defendido por uma pessoa, mais velha e bem mais respeitável do que eu (dentro da comunidade em que congrego), dizendo que o gosto musical dele não interfere na sua fé cristã. Posteriormente, soube que esse senhor é até hoje um discreto fã de Elvis Presley, Elton John (e os críticos diriam: Nossa, ele é gay! E daí?), alguns "roqueiros" dos anos 60 que fizeram a cabeça dele. Bem, ainda por causa desse irmão problemático (que nem mais congrega na minha igreja), estou sem poder usar da palavra (coisa que fazia com habitual frequência, muito prazer e enorme responsabilidade) há mais de três anos. Sim, o pastor da minha igreja resolveu dar ouvidos a esse irmão, e ele deve me considerar no fundo um impuro, por gostar de... Rock.

Aliás, música é um problema sério com cristãos. Você usa sabonete que não é explicitamente dedicado a Deus, vê filme que não é explicitamente dedicado a Deus, come comida que não é explicitamente dedicada a Deus. Então, porque eu sou obrigado a ouvir música que é explicitamente dedicada a Deus? Poucos admitem, mas os riffs de guitarra usados por grupos de louvores de várias igrejas (ou todas) tem origem no "odiado" rock.

Claro, também não vamos ao outro extremo. Embora o Iron Maiden não tenha sido assumidamente satanista (conforme foi explicado certa vez por um dos integrantes, e comentado nessa página aqui), eles foram elementos usados de certa forma para falar de satanás (Number of the Beast, para lembrar a mais conhecida). O próprio Rolling Stones, com Sympathy for the Devil, também. Muitos flertaram com satanás. Saindo dos mais conhecidos do grande público, Abaddon's Bolero, do disco Trilogy, do power-trio de rock progressivo Emerson, Lake and Palmer. Abaddon é o nome de um demônio, conforme relatado em Apocalipse 9:11:

E tinham sobre si rei, o anjo do abismo; em hebreu era o seu nome Abadom, e em grego Apoliom.

Existem bandas de progressivo européias que tem um médium como integrante da banda. Existem outras, de death e black metal, que são abertamente satanistas. Deicide, por exemplo. Mas daí dizer que TODAS são, é no mínimo, uma bobagem sem tamanho.

Que propósito tem de ouvir discos ao contrário e descobrir as verdadeiras mensagens por trás? O que tem de novo na mensagem que alguns colocam, mesmo sem a consciência do autor da música? O Rebanhão teve algumas coisas esquisitas gravadas ao contrário num dos seus discos que saiu pela Polygram - assim diz a lenda da época. E ai de quem falar que o Rebanhão não era cristão. Ou como os Engenheiros do Hawaii, que brincaram com o fato de alguns inverterem os discos, gravando uma mensagem: "Ei, o que você quer ouvir aqui? Aqui não tem nada não, vai ouvir o disco na ordem certa, vai. Deixa de perder tempo com esse papo de disco ao contrário". Ou algo assim. O que satanás quer fazer, todo mundo sabe, não precisa inverter discos, mexer nos rótulos da Coca-Cola ou investigar os desenhos animados para saber. Sabemos o que o inimigo de nossas almas quer, mas nem por isso aceitamos, topamos ou batemos palma para eles. Qual o propósito em inverter discos? Saber o que já estamos sabendo? Como se isso fosse mostrar novidades...

O mundo é mal-frequentado, não é ruim (já dizia Luiz Fernando Veríssimo), mas não façamos dele ainda pior do que está. Somos chamados a sermos sal e luz, a mudarmos o mundo, não torná-lo chato, como a visão de muitos irmãos nossos. E aqui entre nós, eu prefiro muita gente "do mundo" (se bem que eu não estou interessado em música "de Marte") tocando e cantando do que muitos cantores evangélicos, que acham que só por serem cantores evangélicos, tem algo de especial. Sinceramente... Está difícil.

31.10.05

Dia da Reforma Protestante

Comemore a Reforma Protestante; Pregue as 95 teses de Lutero na porta da igreja católica mais próxima

Anônimo (melhor mantê-lo assim)


Dia 31 de outubro os cristãos evangélicos lembram da Reforma Protestante. Infelizmente, a maioria nem se preocupa em saber quem era Martinho Lutero, João Hus, João Calvino, Wycliffe, Zwinglio, e tantos e tantos outros, famosos e anônimos. Não é uma questão de idolatria disfarçada de veneração, como alguns segmentos cristãos fazem. É uma questão de lembrança do papel daqueles homens na história, e ainda maior importância deles no plano de Deus para a humanidade.

Não que eles sejam especiais para Deus. "O cristão mais famoso da terra, no céu é um anônimo na multidão dos santos" (alguém já disse). Mas eles foram relevantes na história, ao trazerem lemas como Só a Escritura, Só a Graça, Só a Fé, Um Só Cristo, Só a Deus Glória. Não tem nada mais cristão do que reafirmar o sacerdócio universal de todos os crentes, defender o acesso à Palavra de Deus a todos os homens, proclamar que Cristo é o Senhor, e que só devemos dar glórias ao Todo-Poderoso.

Lutero foi um homem admirável. Quando leio a sobre ele, admiro a pessoa, e o símbolo que ele se tornou, mesmo contra a própria vontade. Assim como admiro outros que o precederam (Wycliffe, por exemplo, foi perseguido por traduzir a Bíblia) e que o sucederam (John Wesley, por tudo o que fez, pela simplicidade), agiram não por mérito ou vanglória, mas simplesmente pela fé. Se estendêssemos Hebreus 11, acrescentaríamos versículos falando de tantos outros, conhecidos e desconhecidos, homens e mulheres, gente que conhecemos e gente que ouvimos falar...

Mas... O que ficou hoje? As igrejas evangélicas imersas em práticas extrabíblicas, algumas quase esotéricas, criando um verdadeiro "Talmude evangélico" (contrariando o Sola Scriptura). Outras, vinculando ofertas financeiras a bênçãos no céu, como se uma oferta maior fosse arrumar uma mansão melhor localizada na Jerusalém Celestial (contrariando o Sola Gratia e o Sola Fide). Ainda tem aquelas que tem lideranças tão personalistas, que quase tiram o senhorio de Cristo (e onde foi parar o Solo Christi?). E, nas horas vagas, entre os louvores vazios e sem conteúdo, as oratórias (pregações não, oratórias) que deixam o Senhor Jesus de lado, e as manifestações de qualquer coisa diferente do Espírito Santo... Eles ainda lembram de Deus e dão glórias. Ou seja, às vezes lembram do Soli Deo Gloria. Dureza.

É por isso que é bom sempre lembrar outro lema da Reforma: Ecclesia reformata semper reformanda: Igreja reformada, sempre reformando. Se Lutero estivesse vivo, mais de 450 anos depois, iria ficar no mínimo chocado, e provavelmente pensando: Foi para isso que eu me rebelei?

Deus tenha misericórdia da igreja, nessa data, 488 anos depois da (primeira) Reforma. Na verdade precisamos de uma segunda, terceira, quarta... E por aí vai.

25.9.05

Um presidente evangélico não é a salvação do Brasil

Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus.

Romanos 13:1


Quebrando o meu silêncio de semanas, queria comentar algo que vi recentemente, sobre o sr. Anthony Garotinho, secretário de governo do estado do Rio de Janeiro e pré-candidato à presidência da República em 2006. O ex-governador é presbiteriano, professor de escola dominical e militante ativo da fé cristã.


Não, não vou gastar meu tempo aqui dizendo se ele é um bom ou um mau candidato, se ele é um político competente ou não, se é corrupto ou não. Tenho uma opinião formada quanto a ele, mas não quero decliná-la aqui, pois meu objetivo não é falar de política, mas sim do meu povo, os evangélicos.


O que me tornou pensativo foi ao observar uma entrevista dele na televisão, num programa de famoso pastor, falando sobre uma armação feita para ele, dizendo que ele comprou votos para o seu candidato na última eleição muncipal, na cidade de Campos dos Goytacazes, sua cidade de origem. Foi exibida uma reportagem da revista Isto É, falando da armação feita contra ele, e ele falou do pedido que fez, perante a Justiça, de que essa emissora de TV dê a ele o direito de resposta, apresentando o homem que o acusou, desmentindo tudo. Bem, estamos num estado de direito, ele tem o direito à defesa, e ao contrário do que muitos agem, todas as pessoas são inocentes, até que se provem o contrário.


Ele é um óbvio candidato à presidente em 2006, e em algumas pesquisas o nome dele desponta na liderança, caso o atual presidente não concorra à reeleição. A sua liderança nas pesquisas me preocupa, não por causa dele em si, mas sim por causa do povo evangélico. Explico:


Antes de tudo, vale citar o sociólogo cristão Paul Freston, em artigo na revista Ultimato, na sua edição no. 278: um presidente evangélico de país latino-americano que era general; chegou à presidência via um golpe militar e conduziu a mais sangrenta repressão que aquele país conturbado já conheceu. (...) E, para dar um exemplo particularmente chocante, o atual secretário particular do presidente da África do Sul é um pastor pentecostal que já foi vice-presidente da sua denominação. Nos tempos do apartheid, ele foi preso por visitar os irmãos da igreja que estavam presos e, na prisão, foi torturado por um diácono da sua própria denominação! (para o artigo completo, clique aqui). O que o autor fala aqui é muito forte: Temos evangélicos em todas as posições políticas, do fascismo ao anarquismo (não anarquia). Conheço gente nos extremos e no meio, de posições diversas. Logo, um candidato evangélico nunca será unânime, quem quer que ele seja. Lembrem-se que a Klu Klux Klan, organização racista estadunidense, é de extrema direita, e em grande parte composta por evangélicos (inclusive pastores).



  1. O que quero dizer, em primeiro, é que ter um presidente evangélico não é sinônimo de um país abençoado especialmente por Deus. Vale citar (novamente) a Ultimato, de setembro/outubro de 2002: Se todos os 26 milhões de evangélicos brasileiros fossem o bom perfume de Cristo (2 Co. 2:15), o sal da terra e luz do mundo (Mat.5:14), o Brasil forçosamente e com certeza seria outro. Esse comprometimento real com Jesus Cristo é muito mais importante do que um PRESIDENTE EVANGÉLICO. Não é que se um presidente é evangélico que o país será mais abençoado que outros. Na Guatemala o presidente era evangélico e deu um golpe de estado; na Coréia do Sul, o presidente era evangélico e sofreu protestos contra o seu governo (muitos iniciados por estudantes que professam a mesma fé que ele). Sem contar os exemplos que eu citei acima. Logo, votar em Anthony Garotinho somente por que ele é evangélico... É muito pobre. Certa vez ouvi de uma pessoa culta, profissional da área de exatas: Ah, se eu não votar nele, em quem eu vou votar? Respondi que em qualquer um dos outros candidatos, ora. Já votei em candidatos umbandistas, mas não por sua postura religiosa, mas por sua capacidade administrativa e legislativa. E qual é o problema nisso? O Brasil precisa de que os evangélicos façam diferença. Afinal, se 1/7 da população do Brasil, (assim dizem estatísticas um pouco exageradas), por que o país continua do jeito que está?
  2. Outro medo que tenho é o povo evangélico em si. Não é preciso ser muito esperto para perceber que, teremos uma ditadura velada do povo evangélico sobre todos os outros povos. É líquido e certo: Ouviremos muitos discursos de "domínio territorial", de "quebra de maldições vindas do tempo de que éramos colônia", "agora nós vamos mandar no Brasil", entre outras sandices. Se alguém conhece A Revolução dos Bichos, de George Orwell, pode lembrar-se do que aconteceu: Os porcos, que eram oprimidos, tornaram-se ditadores, os opressores da granja. A mesma coisa ocorrerá no Brasil. E o meu medo é agora, os evangélicos, como povo, achar que agora mandam no Brasil, e aí... Coitados dos não- evangélicos: umbandistas, espíritas, praticantes da Nova Era... Até católicos terão problemas. Se bobear vai ter gente querendo perseguir outras matizes religiosas e usar a máquina do Estado para isso. Teremos evangélicos se metendo onde não foram chamados, tornando o nosso Brasil um país mais anacrônico. Tudo com um pretexto de que "o presidente é evangélico". Eu tenho medo do povo evangélico no poder, como tenho medo de qualquer povo oprimido quando toma o poder. Mete a cara no melado e se lambuza todo.
  3. Meu terceiro medo é que aí teremos caravanas de pastores indo a Brasília pedir favores. O que vai ter de gente batendo na porta do Palácio do Planalto, caso tenhamos um possível presidente evangélico... Não vai ser brincadeira. Se os políticos evangélicos se reúnem apenas para discussões ridículas como colocar Jesus como o padroeiro do Brasil, lutas contra leis pró-aborto, anti-homossexuais e coisas assim, não é de espantar que teremos coisas ainda piores. Vai ter pastor achando que colocar o próprio nome numa praça da sua cidade é razoável, vai ter liderança que vai querer auxílio financeiro do governo (poderiam alegar que a CNBB recebia apoio financeiro - o que é errado, se o Estado é laico)... Mil e uma aberrações. E se não atenderem, aí vai ser pior. Com certeza irão, nas suas comunidades e congregações, falar mal daquele que virou para eles e disse: "Não, infelizmente não dá". Sim, teremos muuuuitos pastores que se não forem atendidos nos seus desejos egoístas, para encher o seu próprio estômago, irão fazer campanha contra o presidente. Não duvide, porque o povo evangélico é bem... Complicado.



Não, não sei se o sr. Anthony Garotinho é o melhor ou não. Me omito de dizer. Só peço que Deus oriente o povo e escolham um governante realmente direcionado por Ele, pois de barata tonta estamos cheios.

12.8.05

Coisas esquisitas que você vê por aí

Acho que alguns sabem (ou todos) da "Sessão do Descarrego", da IURD. Não vou comentar o termo, ou o fato. Mas eu estava passando na rua, e passei em frente a uma igreja hoje, indo resolver umas coisas no centro do meu bairro, e encontro escrito:


Descarrego total - com o sabonete da limpeza espiritual




Olha, até para sincretismo religioso tem limite. Tem a história do copo d'água (em alguns casos uma garrafa), areia, e tantos outros símbolos sincréticos, prática herdada da umbanda (lamentavelmente herdada). Mas sabonete? Deus tenha misericórdia.



Não, não era a Igreja Universal onde eu vi isso.

10.7.05

Aprecie com moderação

Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.

II Timóteo 1:7


Confesso-me um entusiasta dos movimentos avivalistas da igreja. Falo avivalistas pois trazem avivamento, mas não necessariamente o avivamento que vimos no passado, na história da igreja cristã. Jonathan Edwards, os irmãos morávios, entre outros, passaram por avivamentos, e isso os impulsionou, a entre outras coisas, lutarem contra a injustiça social do seu tempo. Foi numa dessas que a escravidão no Império Britânico caiu, por exemplo.

Quando falo avivalistas, é num contexto bem mais limitado, o contexto de uma igreja local. Ora, todos sabem que toda igreja que segue uma linha tradicional tem o seu grupo mais "aquecido", "do fogo", pentecostal. Isso é bom, pois o grande conflito entre tradicionais e pentecostais é justamente o conjunto dos dons do Espírito Santo, e o uso deles, principalmente os que aparecem mais (já notaram que ninguém discute por causa do dom de serviço, dom da hospitalidade, etc).

Cabe aí um comentário: Ambos trabalham errados nesse conceito. Os tradicionais praticamente esnobam as manifestações do Espírito Santo, através de dons (em particular profecia, dom de línguas, cura, expulsão de demônios e outros). Os pentecostais, por sua vez, valorizam enormemente a experiência pentecostal, colocando inclusive como peça fundamental para a confirmação da salvação: Tem que ser batizado no Espírito Santo, e falar em línguas. Em resumo: Ai meu Deus, ninguém entendeu nada de I Coríntios 14... O ideal é atingir o equilíbrio: Aceitar os dons e suas manifestações, mas não transformá-las num espetáculo de circo, como aquela igreja que entrevista o capeta no microfone (um dia eu conto a piada).

Mas o assunto não é falar dos dons do Espírito (falo nisso outro dia), mas sim dos movimentos da igreja, e eu simpatizo com a caminhada para o meio-termo que as igrejas tem traçado. Algumas tradicionais tem estado abertas ao mover do Espírito Santo, e tem permitido mais liberdade aos seus membros. Também tem sido mais influenciada pelo uso da música com instrumentos mais... Populares, como guitarras, violões, baixos e baterias, deixando um pouco o órgão congregacional de lado.

Por sua vez, os pentecostais tem buscado mais o estudo da Palavra. Há algum tempo, uma Bíblia de Estudo Pentecostal era uma contradição de termos, e temos seminários teológicos pentecostais. Abrir a boca para pregar não tem sido mais tanto um exercício de "adivinhação", como alguns faziam (com a desculpa de que "estamos entristecendo o Espírito Santo"), mas com preparação e aprendizado, tem sido muito mais proveitoso.

É claro, há exageros. Por isso o versículo acima. É muito fácil tender aos exageros, descaracterizar a igreja, torná-la uma "coisa", que não tem identidade definida. Submeta-se à liderança da denominação, ora. Se reclamarem, pare para ouvir! Se bem que haverão uns que leriam essa frase minha, e diriam: "Ah, mas quando Jesus veio, não criou igrejas tradicionais e pentecostais" Com certeza. Mas se você está submetido à alguma autoridade, sendo ela eclesiástica, é importante que ela seja respeitada. Se sua igreja é tradicional, então que tenha características tradicionais. Mas que dê espaço ao novo, ao avivamento, ao louvor "com palmas, saltério e harpa, adufe", entre outras coisas. E que as pentecostais continuem nessa caminhada em busca de aprender de Deus, e não jogar no Espírito Santo a "culpa" da pregação ter sido fraca. Afinal, é fácil jogar a culpa em quem não se vê, e não se manifesta, a não ser "por gemidos inexprimíveis" na frente do Pai.

As neopentecostais são um outro problema sério, que eu falo depois, num dia desses. Mas que o Senhor tenha misericórdia do seu povo, pois as coisas estão difíceis.



Certa vez, na igreja de um amigo meu, daquelas BEM tradicionais, houve um movimento da juventude para terem uma bateria. Metade da membresia anunciou que pediria carta de transferência para outra igreja se uma bateria entrasse no templo. Essa é a mesma igreja cujos momentos de louvor com corinhos no retroprojetor são precedidos de um cerimonial (a montagem do retro), e vez por outra uma ironia do dirigente, referindo-se aos corinhos como "coros congregacionais modernos". Perguntei a ele como é que ele aguentava, se ele nunca pegou um resfriado com a frieza das pessoas (hehehe). Ele riu e disse que era assim mesmo, que "a luta continua".

Além desses absurdos, vale a pena ressaltar a frieza de muitos tradicionais com o louvor e o uso de palmas. Já passei por isso, ao bater palmas num culto jovem, e me sentir o esquisito, por ter sido o ÚNICO.

Lamentável, né? Só espero que isso já tenha mudado nessas igrejas.

P. S.: Definição de culto jovem: Culto feito pelos jovens, à imagem e semelhança do "culto dos adultos". Na sua maioria não serve para muita coisa, na prática.

27.6.05

Igrejas ricas, comunidades pobres

E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;

Lucas 21:2


Uma vez, uma jovem estava conversando comigo, e com orgulho desmedido, comenta que a torre da igreja dela (cristã protestante) é maior do que as torres das igrejas católicas no município onde ela mora. Ela também complementa que cada um daqueles tijolos de vidro usados em decoração custaram quase R$ 150 cada um. E usaram 70 ou 80 na fachada, acho.

Minha vontade foi virar para aquela jovem e dizer:E daí?. Grande coisa. Só que isso mascara um problema, relacionado às pessoas.

Sempre fui contra igrejas grandes. Na minha opinião, igreja com mais de 150 membros tem que ser dividida. Igreja é comunidade, não multidão. Como relacionar-se, olhar nos olhos das pessoas e ver a presença de Cristo, se você não conhece nem 10% da membresia, mesmo depois de anos na igreja? Para alguns é "excitante" conhecer gente nova na igreja todo dia, mas isso quebra completamente o preceito de comunhão entre as pessoas. Afinal, o que é uma ecclesia, senão uma comunidade? E como ser uma comunidade se você não conhece as pessoas?

Mas continuando... Temos as pessoas cada vez mais carentes, em tantos aspectos: Financeiramente é o aspecto mais comum, afinal desemprego é um problema no nosso Brasil. Mas as pessoas são carentes de afeto e carinho, muitas tem baixa auto-estima com isso. Falta muito cuidado, e falar que Deus os ama é muito estranho. Afinal, eles não vêem Deus...

Muitos pastores (graças a Deus não todos) tem uma goela de avestruz: O que tem no caixa da igreja, quer gastar. E na sua maioria, com obras e benfeitorias, de forma a registrar nos anais históricos, o seu nome como "aquele pastor que fez isso e aquilo". Muitos acham que isso é demonstrar que seu ministério é abençoado. Ledo engano.

As pessoas tem auto-estima baixa, mas se sentem melhores quando vão a uma igreja grande. Grande e bonita, diga-se de passagem. Muitas (como aquela jovem que citei em cima) acham que é um mérito a igreja ter um pináculo tão alto. Outros falam com orgulho: "É a minha igreja", como se isso fosse um mérito. E pastores arrancam centavos, reais e outras quantias da membresia que, embriagada com o templo, colocam ele como um fim, não como um meio.

Igrejas com escadas rolantes, projetores multimídia para o louvor, teclados Korg, baterias Pearl, guitarras Ibañez... Qual o fim nisso? Um teclado Korg cusa uns R$ 3 mil, uma bateria Pearl passa dos R$ 2 mil, uma mesa de som com 48 canais (enquanto não se usa nem 25) custa mais de R$ 5 mil. Afinal, vale a pena torrar o dinheiro da igreja nisso? Isso vai melhorar o louvor? Aliás, isso vai ser melhor aos olhos de Deus?

Não falo que deveremos ter guitarras, teclados e baixos, nem retroprojetores. Mas vem a pergunta: É realmente útil? Deus não está nem aí se o músico é fenomenal, o que importa é o seu coração, como aquele que ama ao Senhor e o louva com o talento que lhe foi dado. Então, por que não comprar uma boa guitarra (não precisa ser a melhor, mesmo porque o músico da igreja não é O MELHOR), uma boa bateria, um teclado jóia, um retroprojetor... Mas precisa mesmo de um piano Yamaha para acompanhar o cântico congregacional? Isso vai ajudar ao culto ser "mais abençoado"? Um projetor multimídia é realmente importante? Eu acho problemático, se isso vem apenas para satisfazer o ego da membresia, é melhor repensar tudo.

Quanto às igrejas... Já notaram que as igrejas maiores estão cada vez maiores, e as menores, ainda menores? As pessoas sentem-se alguém simplesmente pela sua igreja ser bonita, imponente ou influente politicamente. Mas e o q ela faz na comunidade? Ela é influente na comunidade? Ela ajuda as pessoas, mesmo as que não são cristãs? Ela é presente na vida do bairro, lutando por direitos ainda não alcançados? Ou é um castelo de beleza num meio de pobreza? Uma Bélgica cravada no meio da Índia?

Os cristãos que moram em comunidades carentes, quase todos descem o morro e vão congregar numa igreja grande, "no asfalto", embora tenham várias igrejas pequenas, comunidades e congregações perto da sua casinha humilde, talvez com melhor maneira de alcançá-los, de abraçá-los e tratar as suas necessidades. Mas muitos só sentem-se "gente" indo congregar no asfalto.

Deixa eu contar uma história: Conheço um homem que, junto com sua esposa, começou uma congregação em uma área carente, numa grande cidade brasileira. Área bem violenta também, eles com muita oração e trabalho iniciaram as atividades. Numa vez, veio um rapaz, membro desviado de uma igreja grande, sede de uma denominação imensa, distante muitos quilômetros da sua casa. Pediu oração para emprego. As pessoas se empenharam por aquela alma, oraram sem cessar, e apareceu a oportunidade de emprego. O rapaz reconciliou-se com Jesus (aleluia), deu uma oferta de gratidão para essa congregação... E correu para a outra igreja, a passos largos. Disse que agora ia "para uma igreja de verdade". O responsável confessou isso com muita raiva, e é justificada. Eu ficaria com raiva também, poxa! Tanta luta, tanta oração, e ouve isso de resposta?

Falta as pessoas se perceberem como filhas de Deus, inteira e completamente. Aí, não vai ser um baixo da Fender, uma fachada envidraçada ou ar-condicionado central que vão fazer eles se sentirem bem. Será a certeza no seu íntimo de serem amados pelo Senhor que fará eles amarem estar em comunhão com seus irmãos.

Quanto a gastar dinheiro com isso, por que não investir em bancar missionários evangelizando, fazer uma campanha nas redondezas da igreja, anunciar que Cristo salva a todos que puderem ouvir? Isso sim, é o que Deus quer que a verba seja empregada, não com benfeitorias que não levam a nada, apenas a inflar egos e esvaziar carteiras.



P. S.: Nada contra igrejas terem confortos. Quem conhece as igrejas Nova Vida sabe que toda INV tem porta de vidro blindex, ar-condicionado central e cadeiras acolchoadas. É um padrão para todas. Mas o problema é quando o conforto da igreja torna-se um fim em si mesmo, não um meio de alcançar pessoas.

P. S. 2: E não tem jeito, nada me convence que um teclado Roland vai ajudar mais o ministério de louvor do que antes. Antigamente chamavam a atenção batendo panelas, distribuindo folhetos e usando cones de papel na boca. Se for preciso, que façam isso tudo de novo, "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas 19:10), e o nosso chamado é falar isso para todo mundo.


Deus tenha misericórdia da nossa igreja.

Igreja que desvirtua a Missio Dei

Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também.

II Tessalonicenses 3:110


Não sou sociólogo, nem tenho a pretensão de sê-lo. Mas muitas coisas observo na igreja evangélica. Sou membro de uma igreja e participo dela ativamente. Mas visito outras igrejas por diversas circunstâncias, e fico observando... Ou como diria Robert Plant em Stairway to heaven: "It makes me wonder...".

Não é preciso ser estudioso das massas para saber que o culto de uma igreja em geral não é apenas um momento de manifestação eclesiástica, onde acreditamos, Deus está presente e participa daquele momento de louvor e adoração à Ele. Vai além disso, já que nem todo mundo que vai à igreja assiste ao culto: É o momento de rever os conhecidos, de fofocar, de realizar o que chamo de um acontecimento social dentro da comunidade. Afinal, pessoas se conhecem, fazem amizade, outras se apaixonam, namoram e casam, nascem e morrem.

Há alguma coisa de ruim nisso? Eu ainda não vi. Acho saudável. Mas isso nivela a igreja no patamar de um clube, uma escola, um grupo de amigos. Mas nós acreditamos que a igreja é algo bem maior, é a representante de Deus na terra, e tem por missão anunciar a salvação e a volta de Cristo, até que Ele venha. Só que muitos estão perdendo essa dimensão.

Infelizmente a igreja está cada vez mais fechada em si mesma, e cada vez mais achando que o reino de Deus resume-se à sua igreja local. Igrejas que olham para o próprio umbigo, não abrem os olhos. Com isso, as igrejas envolvem-se MENOS em ação social, em movimentos para-eclesiásticos, em lutas contra a injustiça, apenas com a desculpa de que estamos esperando o céu chegar.

Raios, o céu começa aqui! Se olharmos direito a Bíblia, é ordenança divina lutar por justiça social, cuidar das pessoas, defender os fracos, entender que Ele não se limita ás nossas quatro paredes! Tem vários versículos que corroboram isso, mas parece que as igrejas só querem ficar enfiadas em si mesmas adorando (critico o louvor pasteurizado depois). O nosso chamado é para mudar o mundo aqui e agora, não é dar um prato de comida ao carente e achar que estamos bem. É preciso lutar contra a pobreza, manifestar, protestar, chiar e principalmente orar. Orar muito, orar sem cessar. Orar até que as coisas mudem, e depois continuar orando. Nunca vi um culto mais vazio que o culto de oração de uma igreja. E nisso incluo todas, inclusive a minha. Tá, o horário é ruim, ainda estamos sonolentos, mas será que oramos em casa também. Não adianta só acharmos que a oração move as mãos de Deus, temos que crer nisso e fazê-lo.

Gosto da bronca de Paulo aos tessalonicenses que acham que deveriam esperar o Reino de Deus apenas. A vida não se resume a isso, mas parece que as igrejas estão cada vez mais assim, virando feudos murados, encasteladas nos seus templos (cada vez mais suntuosos), com medo do mundo, com medo de se contaminar. Acho que, se pudessem, muitos sairiam da Terra e iriam para Marte, ou alguma lua de Vênus, para lá "louvarem ao Senhor sem os mundanos por perto".

Será que, se a igreja sumisse da comunidade, as pessoas sentiriam falta? Façam alguma coisa, ou então peguem o documento de fundação da igreja e ensopem ele com batatas.

Lutero ataca pela primeira vez aqui

"Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir."

Martinho Lutero

Liberdade para fazer tudo e também para fazer nada

Quem conhece a liberdade
A quem o próprio Deus chamou
Não aceitará se submeter
A nenhuma escravidão

Doutores da Lei (Resgate)



Acho muito engraçado a pretensa liberdade que muitos alardeiam na igreja evangélica hoje em dia. Aliás, acho que a imposição dessa liberdade traz muitas vezes libertinagem (não no sentido sexual do termo), quando também acarreta bagunça.

Explico: É comum, nos momentos de louvor das igrejas hoje em dia falarem muito que temos liberdade perante o Senhor, e daí podemos nos manifestar livremente perante Deus, no momento de louvor. Agora, e no que isso acarreta problemas?


  1. Muitos entendem isso como um salvo-conduto para pagar mico perante Deus. E daí vem os exageros. Nada contra bater palmas, e louvar ao Senhor com elas. Mas assobiar, gritar, rodopiar e outras manifestações que listo abaixo, deixam de ser a presença do Espírito Santo para ser qualquer outra coisa. Em alguns casos, parece ser é coisa do capeta mesmo.
  2. As pessoas que dizem que tem o Espírito Santo (e fazem essa macaquice toda) acham que, quem não faz, não tem o Espírito Santo em suas vidas. Se a pessoa não canta, por exemplo (por diversos motivos), pronto, é frio espiritualmente, ou até é um enviado de satanás.
  3. E quem não faz, por diversos motivos, acha que o louvor é só cantado e/ou tocado, 3 ou mais coros no retroprojetor e acabou. Uns sentem-se culpados por não louvarem direito, como se fizesse diferença para Deus o louvor ser com panela batucada com colher ou baterias Pearl, órgão desafinado ou teclado Korg, e viola velha ou uma guitarra Fender Stratocaster. E essas pessoas sentem-se às vezes inferiorizadas. Tristes. Ficam mal mesmo.

Ou seja, perpetua-se uma cultura de comércio até no louvor: "vendemos" nosso melhor louvor, cheio de emocionalismos e filigranas espirituais, em troca de bençãos materiais do Deus Altíssimo, como se Deus precisasse de nós para realizar o seu propósito. Conversa fiada.

Vale a pena lembrar João 4:23: Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Esse é o versículo mais usado como justificação para esses exageros. Só que a visão de louvor da igreja anda muito deturpada.

Louvor não é só cantar. Se o louvor fosse só isso, seria muito pobre. Louvamos a Deus com as nossas ofertas (momento mais do que negligenciado nas nossas igrejas), com os nossos dízimos (por mais que 70% em média da membresia não entregue o dízimo), com a nossa vida, com o nosso coração. Já vi críticas severas a uma pessoa próxima a mim que não canta por ser desafinado e não gostar. Mas ele louva com o seu coração, acompanha cada linha do cântico (ou coro) e louva no seu íntimo. Aliás, ele deve ter ficado mais tranquilo quando notou que o líder nacional da sua denominação também não canta, embora faça a mesma coisa que ele.

Como lidar com isso? Aprendendo a ser tolerante, aprendendo o que é realmente o que é o louvor. Vale a pena citar A Ditadura dos Tolerantes, do pastor Ricardo Gondim, sobre o exercício da tolerância. E também recomendar esse livro, do Rubem Amorese: Louvor, Adoração e Liturgia, da Editora Ultimato. São material excelente sobre o assunto. Ao contrário de Congressos de Louvor Profético que enchem hotéis em cidades interioranas e manifestações de Louvor Extravagante (está mais para Estrambótico), seria melhor se as pessoas preocupassem em entender realmente o que é o louvor.

Você pode estar perguntando-se: Mas como ser mais tolerante, se as igrejas estão tão fundamentalistas? É assunto para falar depois. Nenhum assunto está esgotado aqui, eles devem voltar depois.

Deus tenha misericórdia da sua (e nossa) amada igreja.